O jogo está próximo da etapa final decisiva. Como frisei, no início, todo jogo tem dois lados. O jogador que avança para o Xeque-mate está confiante em sua estratégia e espera concluir esta etapa em poucos meses. O outro jogador guarda seus trunfos, observa, e tenta adiar o Xeque-mate.

Na área da Torre os lances mostram que o Xeque-mate está em acelerada evolução, seguindo para seu desfecho. Os sinais claros nesta direção são tão numerosos que é até difícil cita-los todos. Farei uma “passada” pelos principais eventos das últimas semanas, resumindo-os.

O processo de desdolarização global segue avançando, com os Bancos Centrais e países desfazendo-se do dólar e adquirindo ouro. Ademais, vários países têm evitado o dólar para fugir do alcance da “jurisdição americana”. Anne Korin, do Instituto de Análise de Segurança Global, numa matéria de 30/10/19 na CNBC intitulada “Um ‘clube crescente’ de ‘países muito poderosos’ está evitando o uso do dólar”, declarou que a China, a Rússia e a União Europeia são alguns dos principais responsáveis por esse impulso. Ela complementou sua perspectiva quanto a força dos países que não querem mais a manutenção do dólar como moeda de troca mundial: “Não sabemos o que virá a seguir, mas o que sabemos é que a situação atual é insustentável”, disse Korin. “Você tem um clube crescente de países – países muito poderosos.”   – vide.

A China vem vendendo títulos do governo dos EUA para adquirir ouro, conforme já mostramos anteriormente e isso não mudou. O Japão tem aumentado sua participação em fase da pressão dos EUA para ele compensar a China – vide gráfico abaixo e   https://www.zerohedge.com/markets/japan-extends-lead-over-china-biggest-foreign-holder-us-treasurys.

Fonte: Bloomberg

Como dito acima a compra de ouro pelos Bancos Centrais dos países, neste caso focando nos que preveem tensões geopolíticas com os EUA ou com a UE, só tem aumentado. Eles estão se refugiando no ouro como principal reserva de valor – vide gráfico abaixo e https://www.zerohedge.com/markets/hundreds-billions-gold-and-cash-are-quietly-disappearing.

Até mesmo pessoas físicas, em geral ricas, também estão sendo aconselhadas pelo Goldman Sachs e estão comprando ouro – vide. Segundo o Goldman Sachs, há inacreditáveis 1.200 toneladas, ou algo em torno de US$ 57 bilhões, de fluxos de ouro “inexplicáveis” em apenas 3 anos. Vale notar que a compra de ouro físico dispara desde 2016, todavia a compra de ouro “não transparente” (sem registro) tem sido mais incrementada que os registrados – vide o gráfico abaixo e https://schiffgold.com/key-gold-news/the-wealthy-are-hoarding-physical-gold/.

O reconhecimento de que o ouro é a cada dia mais importante fez com que a Bloomberg aumentasse a participação dele em sua cesta de commodities – Vide.

Metas de distribuição de peso de todos os componentes do BCOM para 2020, bem como seus pesos comparativos em 2019.

Parece que há um movimento global para “ocultar” ativos.

Um fato, digamos, inusitado vem ocorrendo. Ao mesmo tempo em que os bancos centrais estão injetando bilhões de dólares por mês no sistema financeiro para combater a volatilidade dos mercados uma quantia semelhante em moeda física (dinheiro em espécie, cédulas) e metais preciosos está fisicamente desaparecendo. Segundo o The Wall Street Journal o dinheiro vem desaparecendo inexplicavelmente – vide. Certos especialistas entendem que alguns estão simplesmente convertendo moeda fiduciária, digital, em ativos tangíveis (cédulas e barras de ouro e prata) que possam manter sob sua custódia. Isso demonstra o nível de preocupação crescente com os rumos atuais.

Com juros negativos e a insegurança quanto ao rumo da economia até mesmo as pessoas físicas passaram a guardar dinheiro em espécie. Poucos estão tão perplexos com o destino do dinheiro que falta quanto o banco central alemão: de acordo com o Bundesbank, mais de 150 bilhões de euros estão ocultados na Alemanha. Este é apenas um exemplo, mas o mesmo acontece em outros países europeus e em outros lugares do mundo. “Nosso senso é que estamos no mesmo barco que muitos outros bancos centrais de outros países”, disse Christian Hawkesby do Banco Central da Nova Zelândia, governador assistente do RBNZ. “Não podemos explicar completamente por que as reservas de dinheiro mantidas pelas pessoas estão subindo e para onde as cédulas estão indo”.

Segundo o WSJ, no link citado acima, “os bancos centrais não sabem para onde foram, nem por quê, e estão brincando de detetive, tentando desvendar o mistério do sumiço das cédulas”. Sabe-se que dos US$ 1,7 trilhão em circulação em espécie em 2018, a grande maioria está no exterior, onde desaparece rápida e silenciosamente, como a segunda melhor reserva física de valor do mundo (depois do ouro, é claro). Uma economista do Fed, Ruth Judson, escreveu em 2017 que cerca de 60% de toda a moeda dos EUA e cerca de 75% das notas de US$ 100 haviam deixado o país até o final de 2016 – totalizando cerca de US$ 900 bilhões em dólares americanos mantidos no exterior. O banco central da Austrália diz que seu melhor palpite é que apenas cerca de um quarto das notas em circulação são usadas nas transações diárias. O resto ninguém sabe, ninguém viu. Claro que devemos levar em conta que não são apenas “poupadores” a guardar dinheiro em espécie, pois operadores de atividades ilícitas também tem este hábito, mas que, por si só, está absolutamente longe de explicar este volume colossal “desaparecido”.

Este “desaparecimento” de tão grande quantidade de dinheiro faz com que não haja um surto de inflação nos países emissores da moeda. Ao não voltar para o sistema ele fica “esterilizado”. Uma pergunta que vem à mente é: será que estão acumulando estas enormes fortunas esperando para comprar ativos desvalorizados após o Xeque-mate? A Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, agora tem um enorme valor guardado no caixa de US$ 128 bilhões. Isso é essencialmente “dinheiro morto” porque não é investido na economia, diz Max Keiser – vide.

Em comunicado divulgado em 11 de dezembro, o Federal Reserve informou que aumentaria as operações de recompra em datas importantes durante o período do ano novo (de 13/12/19 a 14/01/20). Estima-se que haverá, segundo a informação do FED, a impressão ou simples incremento de US$ 425 bilhões para o ano novo (2019/2020) – vide. “A rápida intervenção no mercado de recompras indica que “obviamente há alguma insolvência” no sistema, alertou Morgan, editor do The Morgan Report, que cobre notícias econômicas”. Ele ponderou que os bancos precisam ter uma certa reserva de caixa disponível e se não o tem, terão que pedir emprestado durante a noite para atender a esse requisito. Eles podem ir a outros bancos para adequar sua posição financeira, mas se outros bancos os recusarem, terão que pedir ao Fed como último recurso. “Isso é meio que dizendo que no sistema bancário em geral, nenhum banco me emprestaria, porque eu não confio no banco que precisa do dinheiro … Por isso, coloca alguma cautela no sistema”, disse Morgan. “Portanto, é meio que vergonhoso ir ao Fed para pedir dinheiro emprestado quando outro banco ou outros bancos não lhe emprestam.” – vide https://www.rt.com/business/472470-fed-repo-market-intervention/. Isso também demonstra o quanto o sistema financeiro está instável e com pouca liquidez, pois o valor apresentado pelo FED para socorrer os bancos é significativo, ainda mais se considerarmos que operações semelhantes de socorro foram feitas em setembro e outubro.

Após eu escrever informando as dificuldades dos bancos chineses, fora os casos específicos (J P Morgan, Deutsche Bank, HSBC, etc….), agora é a vez dos bancos italianos e estadunidenses. O governo da Itália aprovou um decreto de emergência para socorrer o Banco Popolare di Bari em quase US$ 1 bilhão (precisamente 992 milhões de dólares), no mais recente resgate estatal de um banco italiano em dificuldades. Trata-se de um banco do sul da Itália com enormes problemas de liquidez – vide   https://www.reuters.com/article/us-italy-banks-popolare-di-bari/italy-approves-900-million-euro-rescue-for-ailing-bank-pop-bari-idUSKBN1YJ0CK. Nos EUA três bancos americanos faliram. Os bancos que faliram são o City National Bank de Nova Jersey, o Resolute Bank de Ohio e o Louisa Community Bank de Kentucky. Entretanto, é interessante destacar que, a última vez em que não houve nenhuma falência bancária nos EUA foi em 2006. Em 2007, houveram três, exatamente como este ano. O que aconteceu no ano seguinte de 2008? Bem, todos sabemos!

O Deutsche Bank continua em dificuldades imensas e a caminho da bancarrota. Sua queda será ainda mais devastadora para o sistema financeiro global do que o colapso do Lehman Brothers em 2008. Em apenas seis meses, somando os resultados do segundo e terceiro trimestre, o Deutsche perdeu um total de quase 4 bilhões de euros. É muito dinheiro, mesmo para um grande banco. Em 8 de julho de 2019, milhares de funcionários do Deutsche Bank em todo o mundo chegaram a seus escritórios pela manhã sem saber que iriam sair dali desempregados. Os cortes de empregos, que totalizaram 18.000, ou cerca de 20% da força de trabalho do Deutsche Bank, foram o elemento principal de um plano de reestruturação projetado para salvar o banco, mas pelo jeito não resolveu – vide http://theeconomiccollapseblog.com/archives/the-deutsche-bank-death-watch-has-taken-a-very-interesting-turn. A situação no banco parece estar tão complicada, e há tanto tempo, que dois executivos se suicidaram. Primeiro foi William Broeksmit e depois foi a vez de Thomas Bowers, ex-executivo do Deutsche Bank e chefe da divisão privada de gerenciamento de patrimônio do banco nos EUA (o grupo que atende a clientes milionários), que se matou enforcado em sua residência em Malibu em 19 de novembro, de acordo com o relatório inicial do legista. Bowers tinha 55 anos.   Importante frisar é que tanto Bowers quanto Broeksmit parecem ter desempenhado funções importantes na divisão de gerenciamento de patrimônio dos Estados Unidos do Deutsche Bank, com Broeksmit operando na obscura Deutsche Bank Trust Company Americas, ou DBTCA. Trump foi um grande cliente do banco. Suicídios à parte o analista Jim Rogers afirma que a queda do Deutsche Bank levará toda a Europa à lona, num efeito dominó – vide https://www.rt.com/op-ed/362254-us-finance-deutsche-bank/. Eu já havia comentado sobre este banco nos textos anteriores.

A McKinsey & Company alertou em um relatório de 55 páginas intitulado “The last pit stop?” que 35% dos bancos em todo o mundo terão que se fundir ou vender para empresas maiores, se quiserem sobreviver à próxima crise – vide  The last pit stop? Time for bold late-cycle moves.

De qualquer forma muitos bancos estão enfrentando dificuldades em uma era de baixas taxas de juros e alta concorrência.

Após eu ter informado antes a corrida a um banco chinês de correntistas desesperados para sacar seu dinheiro, agora foi a vez de uma grande corporação chinesa ficar insolvente. Não é uma empresa qualquer, o Tewoo Group é a maior empresa estatal da província chinesa de Tianjin. Ele ofereceu um plano de reestruturação de dívida “sem precedentes”, que acarreta grandes prejuízos aos investidores ou uma troca por novos títulos com retornos significativamente mais baixos. O Tewoo Group é um conglomerado de propriedade do governo local e opera em vários setores, incluindo infraestrutura, logística, mineração, automóveis e portos, de acordo com seu site. Também opera em vários países, incluindo EUA, Alemanha, Japão e Cingapura. A empresa ficou em 132º lugar na lista Fortune Global 500 de 2018, superior a muitos outros conglomerados mundiais. Teve uma receita anual de US$ 66,6 bilhões, ativos no valor de US$ 38,3 bilhões e mais de 17.000 funcionários a partir de 2017, segundo o site da Fortune. Portanto, é uma empresa de peso em qualquer parte do mundo, e ficou insolvente – vide https://www.zerohedge.com/economics/china-braces-unprecedented-massive-default-state-owned-enterprise. A Bloomberg viu isso como um sinal de que a China não está mais disposta a ficar socorrendo empresas e bancos em dificuldades – vide https://www.bloomberg.com/news/articles/2019-11-26/china-faces-biggest-state-firm-offshore-debt-failure-in-20-years. Com esta nova postura do governo novas falências podem estar a caminho.

Um escândalo com potencial para atingir o Brasil é o da empresa Glencore Plc ligada à família Rothschild. Ela está sendo investigada por suborno pelas autoridades britânicas, aprofundando os problemas legais que ameaçam o maior operador de commodities do mundo. As ações caíram 8,6%, no piso de três anos. A ação do Serious Fraud Office (SFO) amplia as investigações sobre corrupção que a Glencore enfrenta nos EUA e no Brasil, que assustaram os investidores e abalaram a empresa nos últimos dois anos. A SFO lançou uma ampla rede, dizendo que está investigando suspeitas de suborno por parte da empresa, seus funcionários, agentes e pessoas associadas. As investigações no Brasil deverão enredar alguns personagens conhecidos – vide https://www.msn.com/en-us/money/companies/glencore-under-investigation-for-bribery-by-uk-authorities/ar-BBXNyyq.

Os sinais de desaceleração da economia mundial são flagrantes. Um artigo recente (26/11/19) – vide http://theeconomiccollapseblog.com/archives/5-more-signs-that-the-global-economy-is-careening-toward-a-recession –  identificou cinco itens que apontam nesta direção:

1 – Está sendo projetado que as vendas globais de automóveis fechem o ano com uma queda de 4%. Segundo a CNN, este será o segundo ano consecutivo em que as vendas globais de automóveis caíram – vide https://edition.cnn.com/2019/11/26/economy/global-car-sales-manufacturing/index.html.

As vendas globais de automóveis estão a caminho de uma queda de 3,1 milhões, cerca de 4% no ano, segundo a Fitch. Esse seria o maior declínio desde 2008, quando a crise financeira ocorreu, e o segundo ano consecutivo em que as vendas caíram. A Fitch espera que as vendas mundiais de carros totalizem 77,5 milhões em 2019.

2 – O comércio global continua caindo. De acordo com o Zero Hedge, o comércio global total agora diminuiu ano após ano por quatro meses seguido, o período mais prolongado de comércio moderado desde a crise financeira de 2008. – vide https://www.zerohedge.com/economics/global-recovery-derailed-world-trade-plunges-again-recovery-hopes-fade-2020.

3 – Os lucros industriais chineses caíram na maior porcentagem já registrada – vide https://www.zerohedge.com/economics/chinese-industrial-profits-collapse-most-record.

Os lucros totais da China Industrial Enterprises caíram em outubro, para CNY427,5 bilhões, ante CNY575,6 bilhões em setembro – queda de 9,9% a/a, a maior queda já registrada.

O setor industrial da China registrou declínios anuais em seus lucros nos últimos 4 meses.

4 – A confiança do consumidor nos EUA, segundo a CNBC, caiu por quatro meses seguidos – vide https://www.cnbc.com/2019/11/26/us-consumer-confidence-for-november-comes-in-at-125point5-vs-126point6-estimate.html.

A confiança do consumidor caiu pelo quarto mês consecutivo em novembro, à medida que as condições econômicas se enfraquecem no final de 2019, segundo dados divulgados pelo The Conference Board.

Isso não deveria acontecer, e se continuar acontecendo, isso terá implicações importantes para a reeleição de Trump em 2020.

5 – Até os ricos estão cortando seus gastos. Segundo o Yahoo Finance, essa é uma continuação de uma tendência que estamos vendo nos últimos três trimestres – vide https://finance.yahoo.com/news/higher-income-consumers-pull-back-152837477.html.

Os gastos entre os 10% mais ricos caíram 1% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com uma análise dos dados do Federal Reserve pela Moody’s Analytics. E uma média dos gastos dos mais bem pagos caiu anualmente nos últimos três trimestres, marcando o primeiro declínio desde a Grande Recessão de 2007-09.

Falemos agora um pouco da economia dos EUA. A dívida pública dos EUA chegou a US$ 23,12 trilhões em novembro. Não só o Governo e as famílias estão endividados, como mostrei antes, uma vez que os consumidores dos EUA têm uma dívida de 14 trilhões de dólares, mas também os níveis de dívida dos governos estaduais e municipais estão em patamares recordes. Não fosse suficiente a dívida corporativa está também em níveis alarmantes, chegando a US $ 10 trilhões. Devido às taxas de juros extremamente baixas, na última década, as empresas americanas foram capazes de realizar a maior farra da dívida corporativa da história. Foi um tremendo “boom”, mas também preparou o terreno para uma tremenda “quebra”. A dívida corporativa aumentou 52% desde 2008, e essa bolha está crescendo continuamente. Na verdade, o total da dívida corporativa é bem maior. A soma das dívidas de pequenas e médias empresas, empresas familiares e outras empresas que não estão listadas nas bolsas de valores representa outros US$ 5,5 trilhões. Em outras palavras, a dívida corporativa total dos EUA é de US $ 15,5 trilhões, 74% do PIB dos EUA. Então vejamos: o Governo Federal deve US$ 23,12 trilhões (mais que seu próprio PIB), as corporações devem mais US$ 15,5 trilhões, os consumidores/famílias devem outros US$ 14 trilhões e os governos estaduais e municipais estão quase quebrados. Como está monstruosa dívida será paga? Resposta: não será. Vide abaixo gráfico da evolução da dívida pública dos EUA:

Abaixo gráfico da dívida em relação ao PIB por governos (gráfico do Terraço Econômico) – vide https://terracoeconomico.com.br/divida-publica-americana-a-historia-contada-por-um-grafico/:

“Estamos sentados no topo de uma bomba não explodida e realmente não sabemos o que desencadeará a explosão”, disse Emre Tiftik, especialista em dívidas do Institute of International Finance, uma associação do setor. “Isso vai ampliar tudo”, disse Krista Schwarz, professor de finanças da Wharton School da Universidade da Pensilvânia. “Isso fará tudo acontecer mais rápido, maior e pior. A recessão seria muito mais profunda”. Mas claro não é só os EUA que está endividado. Uma década de dinheiro fácil deixou o mundo com um recorde de US$ 250 trilhões em dívidas governamentais, corporativas e domésticas. Isso é quase três vezes a produção econômica global e equivale a cerca de US$ 32.500 para cada homem, mulher e criança na Terra – vide.

A dívida é tão grande que os juros precisam ficar artificialmente negativos, pois do contrário o serviço da dívida ficaria pesado demais. Mesmo com juros negativos, ou próximos de zero, está dívida tem uma probabilidade altíssima de nunca ser paga. Se os juros se tornarem positivos é praticamente certo que não haverá meios de paga-la. É uma bolha prestes a explodir. Esta situação não é sustentável no médio e longo prazo. Simples assim.

O “mestre” dos mercados, como é chamado, Harry Dent assim resumiu sua visão: “Estamos vendo uma repetição dos eventos que antecederam o colapso do mercado de 2008 e, neste momento, estamos apenas esperando por um catalisador para iniciar o efeito dominó. Em 2008, foram os empréstimos subprime que começaram a entrar em default que iniciaram a reação em cadeia destrutiva. Hoje, com uma enorme bolha de ativos, demografia lenta e uma economia global cheia de dívidas, não será preciso muito para desencadear um acidente” – vide.

Assim, existe apenas uma solução para esta equação: parar tudo e redefinir o sistema. Esta será a etapa final do Xeque-mate, já em execução. Naturalmente pegará os incautos de surpresa, mas não àqueles que diligentemente se informaram.

Na esfera dos lances do Bispo a divisão se aprofundou, tornando as nações mais vulneráveis. A radicalização de posições no espectro ideológico é evidente no mundo ocidental. Nos EUA o último lance foi a aprovação na Câmara do impeachment de Trump. A forma como foi conduzido e o resultado final da votação mostram a divisão no país. Nas duas votações na Câmara a margem foi apertada (230 x 197 e 229 x 198), não tendo havido sequer um voto republicano favorável. Dois democratas acompanharam os republicanos e votaram contra o impeachment. Certamente, o impeachment não passará no Senado, onde a maioria é de republicanos, mas o ódio que se vê entre pessoas de tendência esquerdista e adeptos de Trump é flagrante. Tudo leva a crer que a eleição do ano que vem para a presidência dos EUA conterá elementos explosivos, que podem jogar o país num caos de violência de difícil controle. O país está dividido de norte a sul.

A estratégia de dividir para governar, conforme já comentei, tem provocado enormes fissuras também na Europa. A questão dos imigrantes é claramente uma arma desta guerra. Na Suécia o ex-CEO da montadora Scania Leif Östling declarou que uma quantidade excessiva de estrangeiros está empurrando o país para a guerra civil – vide. Outros países europeus, como Alemanha e França, enfrentam o mesmo dilema e dificilmente evitarão distúrbios violentos sem o uso da força.

No campo do Cavalo o jogo está atingindo clímax interessante. No dia 26/11/19, às 8:30h, houve o que parecia ser uma violação da Zona de Identificação de Defesa Aérea de Washington DC (ADIZ) causando o bloqueio da Casa Branca e acesso restrito ao Capitólio. Um helicóptero MH-65 Dolphin foi despachado, caças F-16C ficaram em prontidão e o sistema de defesa antimísseis de curto alcance, postado no alto de prédios (AN/TWQ-1 Avenger), ficou em alerta máximo, para o que depois foi inicialmente identificado como um grupo de pássaros, causa da formação de uma bolha lenta no radar – vide https://www.nbcnews.com/news/us-news/airspace-violation-washington-d-c-white-house-lockdown-n1091356 e https://edition.cnn.com/2019/11/26/politics/white-house-lockdown-airspace/index.html e https://www.foxnews.com/politics/white-house-capitol-building-on-lockdown. Todavia, o motivo real não foi este. Na verdade, houve uma anomalia no radar que foi agravada por erro humano. Um dos radares que alimentam os dados no sistema de defesa aérea criou o que é chamado de “trilha espelhada” de um avião que não apresentava risco e que estava em contato regular com a torre. O sistema direcionou seu foco para a “trilha espelhada” quando na verdade o avião real já estava em outro lugar, ou seja, se fosse um avião hostil a coisa poderia ter se complicado. Ao tomar o controle manual os operadores perceberam o erro, mas não quiseram abortar os procedimentos – vide. Fatos como esse tem levado a crer que os procedimentos de proteção da capital estadunidense ainda precisam ser aprimorados, notadamente no que tange a ataques de pequenos voadores, como drones e VANTs (veículos aéreos não tripulados). Alguns se perguntam se tudo não passou de um teste de um adversário para verificar a prontidão de resposta do sistema de proteção.

A OTAN avança em sua crise interna na medida que os EUA cobram maior participação financeira dos outros países-membros e a Turquia se distancia do bloco. O presidente francês Macron chegou a declarar, numa entrevista a revista The Economist, que a aliança militar ocidental estava com “morte cerebral” – vide. Percebendo a fragilidade, em sentido contrário, vemos um endurecimento dos discursos da Rússia e da China em relação a um possível confronto com os EUA. Até mesmo um “aliado” da OTAN, a Turquia, tem se posicionado de forma claramente desafiadora aos EUA, tendo se negado a voltar atrás na compra dos sistemas de defesa aérea S-400 russos. Os EUA procuram mostrar força ao posicionar tropas e equipamentos na Europa próximos a fronteira da Rússia.

Neste ano o Presidente russo, Vladimir Putin, fez várias declarações desafiadores, deixando claro que estava pronto para o confronto, ameaçando inclusive colocar mísseis nucleares hipersônicos em navios ou submarinos perto das águas territoriais dos EUA  – vide. O clima ficou tenso.

A China tem desenvolvido, com auxílio dos russos, toda uma nova geração de armas. Recentemente mostrou a força assassina de seu novo modelo de drone autônomo chamado de Blowfish A3. O mundo já havia ficado surpreso ao ver a força destruidora de drones e VANTs no ataque em setembro de 2019 às instalações petrolíferas da Arábia Saudita, a qual as defesas aéreas (de fabricação americana) não conseguiram impedir – vide. Agora os chineses apresentaram este modelo de drone assassino autônomo. O assunto está se tornando tão preocupante que o Secretário de Defesa Americano Mark Esper fez um verdadeiro desabafo na Conferência da Comissão de Segurança Nacional sobre Inteligência Artificial no dia 04/11/19, dizendo: “Enquanto conversamos aqui, o governo chinês já está exportando alguns dos seus drones aéreos militares mais avançados para o Oriente Médio, enquanto se prepara para exportar seus VANTs (veículos aéreos não tripulados) furtivos da próxima geração quando eles ficarem online. Além disso, os fabricantes chineses de armas estão vendendo drones anunciados como capazes de total autonomia, incluindo a capacidade de realizar ataques letais direcionados” – vide.

A percepção geral é que todos estão se preparando para um confronto quase inevitável.

Existem alguns pilares para um país manter-se de pé. Dentre eles três merecem especial atenção: economia sadia e com baixo grau de dependência externa, poder militar forte e sentido de nacionalidade/união da sua população. Existem outros fatores subsidiários e complementares, mas estes três sustentam os demais. É preciso ter uma economia sadia e pouco sujeita a reveses externos para que as necessidades básicas da população estejam supridas sem serem impactadas pelo cenário exterior, além de propiciar-lhe segurança, saúde e educação de livre acesso e com qualidade adequada. Várias foram as situações históricas onde a fome e a miséria suscitaram revoluções e conflitos sangrentos. Ter uma economia dinâmica gerando riqueza e prosperidade é o melhor antidoto. Da mesma forma não se encontra na história mundial países em que seu exército era débil e que não foram submetidos, de uma forma ostensiva ou não, por outra potência militar. Todas as grandes querelas mundiais, que possuíam caráter estratégico relevante, foram resolvidas no campo de batalha. Não é à toa que a história da humanidade é repleta de guerras de conquista e dominação, incluindo duas guerras mundiais, e isso não mudou. Basta ver os conflitos em andamento hoje, como os da Síria, Iraque, Afeganistão, Iêmen, etc… Todavia, para ter poder militar é essencial ter uma economia forte, capaz de financiar o esforço bélico. A Rússia aprendeu esta lição ao ver a União Soviética, uma superpotência militar, esfacelar-se pela fragilidade de sua economia, incapaz de suportar o investimento necessário na corrida armamentista. Por fim, já ensina a Bíblia que casa dividida não para em pé. Quando um país se deixa dividir em grupos, fragmentando a sociedade, as portas para o abismo se abrem. Um povo unido e consciente jamais será facilmente dominado por uma potência estrangeira, e se ocorrer, durará pouco.

Os países asiáticos aprenderam esta lição e tem procurado manter-se protegidos dos movimentos globalistas divisionistas que pregam os direitos da minoria a qualquer custo. Em particular a Rússia e a China aprenderam a lição de que é vital ter uma economia forte para financiar um Poder Militar poderoso capaz de garantir sua soberania e capacidade de protagonismo. Perceberam também que as políticas atuais em voga no Ocidente causam fratura na sociedade, desunião, e por isso adotaram medidas prudenciais para evitar o seu impacto (adotaram o modo de produção capitalista com um sistema político mais fechado). Não irei discutir aqui aspectos éticos e morais, mas estou tão somente apontando os caminhos que o Ocidente tomou, e qual os Orientais tomaram, para estabelecer a diferença e as chances de êxito neste jogo. O resultado destas ações, tanto no Ocidente como no Oriente, são nítidos.

E o Brasil? Bem, já abordamos esta questão antes. Dos três pilares citados qual está firme e consolidado no Brasil? A economia brasileira é altamente dependente do capital externo, logo é vulnerável. Ela é tão frágil e volátil que até um erro de cálculo amador do Ministério da Economia, ao divulgar o saldo da Balança Comercial em novembro, fez o país “queimar” dólares de suas reservas, mesmo sem fundamentos comprovados – vide. Movimentos especulativos é que conduzem o “mercado”. Suas reservas cambiais não têm lastro sólido, com pouquíssima participação de ouro e muitos títulos em dólares, daquele mesmo tipo que os países citados estão se livrando. Nossas Forças Armadas estão longe de terem um efeito dissuasor contra grandes predadores militares estrangeiros, logo não são capazes de ajudar o Brasil a impor sua agenda e defender seus interesses, exceto na América Latina e, mesmo assim, de forma limitada. Na questão da união nacional as coisas também não parecem irem bem. O país vem se dividindo por questões ideológicas, numa radicalização preocupante nas pontas dos dois espectros políticos (esquerda e direita), e também por questões engendradas por agendas globalistas, tais como: Homo contra Heteros, negros contra brancos, ricos contra pobres, etc….. Não fosse o bastante as Instituições Nacionais, notadamente os Poderes constituídos (Executivo, Legislativo e Judiciário) perderam completamente a credibilidade, estão em frangalhos. As pessoas perderam a noção exata do que é certo e errado, num relativismo fatal.

Quando a bolha estourar e o sistema for reiniciado, dependendo da versão implantada, poderá haver um hiato de tempo onde o velho sistema já não funciona e o novo ainda não está 100% operacional. Dependendo do jogador que implantar o programa poderá haver um período caótico, com prejuízo a infraestrutura básica, ao abastecimento, etc….. Vários países sérios no mundo já adotaram medidas protetivas para este momento, como venho mostrando nos textos da série Xeque-mate, notadamente no título “O xeque-mate antecipa o contra-ataque”. Pergunto: o Brasil está preparado?

De fato, uma imagem que me vem à mente quando penso na situação atual é daquela cena da festa no Titanic, todos alegres e elegantemente distraídos, antes da batida no iceberg. Aqueles que acompanharam os 18 (dezoito) artigos da série Xeque-mate ao longo do segundo semestre de 2019 entendem o que estou dizendo. Sabem onde está o bote salva-vidas e como opera-lo para atravessar o mar a salvo. Depois da tormenta vem a calmaria, depois da noite vem o dia.

O ano de 2020 já está à porta e, certamente, será inesquecível.

“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas” – Sun Tzu em “A arte da Guerra”.

O efeito dominó começou, na medida que a cada movimento um novo dominó cai e empurra outro para a queda seguinte!

Todo jogo acaba ou muda de fase. O xeque-mate se aproxima.

Luiz Antonio Peixoto Valle é Professor e Administrador de Empresas.

 

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
1
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
1
Inspirado

Principais Manchetes